Sozinha, lutando com o gelo que reveste meus pés e a tensão que projeta em meu corpo. Eu to lidando com os monstros que durante muito tempo condenaram meu sono cerraram meus punhos e expuseram minhas lágrimas. Talvez hoje eu seja mãe da fúria e do torpor que me acometem – somente incitando meu tênue domínio poderei de alguma forma me sobrepujar.
De todas as coisas que eu vi, maltratam-me aquelas que eu nunca quis enxergar – são elas, sempre foram... Eu nunca me permiti. Covarde!
Eu guardei, quis enterrar cada detalhe como se de alguma forma pudesse esquecê-los e fazer de conta que eles nunca existiram. Tentei viver numa mentira pra conseguir ser feliz de verdade.
Embora eu não pudesse ver aquilo que havia cravado terra a baixo, eu podia senti-las, elas nunca me deixaram. Quando não as ouvia, podia vê-las cintilar sobre meus medos mais relevantes.
Eu quis me proteger quando não fiz mais do que protelar o inevitável. Boba. Incrédula. Como pude pensar ser mais forte do que a sentença da vida? Como tive a audácia de pensar distraí-la como se seus olhos não vigiassem meu futuro? Negligenciei sua capacidade em função do meu desejo de viver sem ter que sentir. Eu quis não sofrer, por quê? Todos choram. Eu?, apenas mais uma.
As mágoas. A pressão contra o meu peito. O ardor em meus olhos. A dor do que eu quis reverter. O fracasso do que me tornei. Meu silêncio. Minha agonia. Meu consentimento. Eu quis me poupar do que jurava não mais resistir. Minha mente indefesa já jogara fora os escudos estilhaçados de outras guerras.
Agora eu luto contra mim e me protejo do abismo que você me transformou.
Eu e o vazio.
Meu coração é fuga ininterrupta. Minha voz o silêncio que ecoa. Meu choro... Só um subterfúgio daquilo que não quero vencer.
Eu tenho medo daquilo que sei, por isso não quero pensar, não quero estar só...Por isso eu me enclausuro, me reprimo...é por isso que eu me guardo e até das palavras tenho fugido, dos meus próprios textos. Os textos que não acredito mais que um dia tive capacidade de escrever, essa combinação de letras que definem meu mundo e expõe minha alma.
Eu quero música, risos, abraços... Qualquer coisa que me envolva e me afaste das conclusões dessa mente completamente inquieta, prestes a enlouquecer.
Eu quero gritar, quebrar tudo, mas não vai resolver. Então decido correr na tentativa inócua de me distanciar do alvo que cravei em meu próprio peito assim que descobri a artilharia dessa guerra.
Várias de mim em uma batalha maldita - uma enfraquecendo a outra, tirando sangue, levando a vida. Uma roubando a outra, incentivando e queimando aquilo que ainda podia ser parte de mim.
Qual o preço desse resgate?
(BALBY, Dandara) 08.04.2010