Minha bola de cristal

Queria tanto ter convicção das coisas! Gostaria de saber que todos os meus sonhos irão se concretizar. Não queria me ater às possibilidades, as perspectivas. Atrai-me tudo que é exato, concreto e descritível. Gosto do amor traduzido em grandes e pequenos gestos. Gosto da igualdade notória. Gosto de estar junto e olhar pra trás e perceber que muito do que um dia foi apenas um sonho, hoje é uma grande realidade. Queria que fosse sempre assim. Mas o tempo, o tempo não deixa. Ele não nos dará oportunidade de fazer tudo, por isso temos que saber caminhar ao longo dele, às vezes dar longos passos e outras vezes, uma pequena parada. È exatamente nessas horas que a gente constata onde está as nossas falhas, o que nos falta para ir além.

Alguns afirmam que a vida é um grande mistério. Outros a definem como uma “breve passagem”. Há quem diga que ela é simplesmente para ser vivida. Eu me firmo que a vida está em cada amanhecer que Deus te concede. Em cada dia que Ele te dar com todos os sentidos que você nem se dá ao trabalho de lembrar o quanto são importantes. Talvez ao perder alguns deles, quem sabe a audição ou o paladar, dar-se-ia conta de que Ele foi perfeito em tudo que fez.

Quando era pequena tinha uma vontade muito grande de possuir uma bola de cristal. Desconheço a razão, mas tudo que é transparente sempre me chamou atenção. Eu acreditava que poderia prever o futuro, que iria me ver numa casa nova, com filhos e um marido. Via-me uma comissária de bordo ou uma grande veterinária. Na minha bola de cristal tudo era bem nítido e só tinha espaço pra felicidade. Não me lembro de ter visto coisas tristes. Só que eu cresci e minha bola de cristal quebrou, muito embora eu ainda continue a ser atraída por tudo àquilo que se pode refletir. Acho que é uma questão de alma. O transparente acolhe, nos faz ver a realidade como ela é e não da maneira que gostaríamos que ela fosse. O invisível nos faz humanos e solidários.

Se a minha bola de cristal ainda existisse talvez eu pudesse ter a convicção de todas essas coisas que me fazem sentir tão impotente em relação ao futuro. Se ela existisse, eu iria contar-lhe que muito do que me foi mostrado seguiu caminhos diferentes e que eu não me tornei aeromoça ou médica veterinária, mas ainda sou uma estudante de Serviço Social. Pediria a ela uma pequena conversa antes de me trazer novas visões e nesse pequeno diálogo eu diria que eu sofri e que ela tinha vetado isso de mim. Diria também que já mudei de casa várias vezes, mas nunca levei pra nenhuma delas um marido ou um filho. E quem sabe ela me responderia que ela me mostrara apenas o que eu queria enxergar...

(BALBY, Dandara) 06.05.08